Estudo apresenta novo marcador e soluções que minimizam a propensão a infecções
2011-05-11
Por Carla Sofia Flores em www.cienciahoje.pt/
No âmbito desportivo de modalidades de resistência que requerem muito treino e cujas provas são muito exigentes houve, de há uns tempos para cá, a percepção de que os atletas tendiam a adoecer depois de competições ou em períodos em que treinavam mais intensamente.
No sentido de comprovar cientificamente esta propensão dos desportistas para contrair certas doenças respiratórias, uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (FCDEFUC) tem vindo a trabalhar com nadadores, remadores e canoístas de alta competição. Trata-se de um estudo, em alguns aspectos pioneiro, que permitiu delinear vários métodos e estratégias que minimizam essa predisposição dos praticantes.
“Estes atletas são ‘assombrados’ pelas doenças em alturas chave, pelo que esta investigação procurou perceber o que se passava entre a quantidade de treino e a sua fragilidade imunitária”, declarou Luís Rama, da FCDEFUC, ao “Ciência Hoje”, sublinhando várias vezes que “os desportistas não adoecem mais do que a população em geral”. Contudo, o aparecimento destas doenças é particularmente prejudicial no contexto da alta competição, pois “pode colocar em causa todo um programa de treinos que tenha sido desenhado para permitir a obtenção dos melhores resultados desportivos”.
A exigência destas modalidades, que “obrigam os seus praticantes a ir aos limites da resistência humana” contribui, de acordo com os investigadores, para uma maior prevalência de sintomas do trato respiratório superior, tal como tosse, corrimento nasal ou dor de garganta, o que denuncia processos infecciosos e/ou inflamatórios.
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Luís Rama
O estudo começou por acompanhar os atletas de natação ao longo de uma época desportiva. Foram recolhidas e analisadas amostras de saliva, para perceber o desempenho da IgA salivar, “uma proteína que funciona como barreira para infecções, impedindo a sua entrada ou retirando-as do organismo”, explicou Luís Rama.
“Percebemos que mais de 50 por cento dos atletas tendem a adoecer quando os valores desta proteína são mais baixos, o que acontece quando o treino é mais intenso. Adoecem como resposta do organismo ao gasto excessivo de energia na prática do exercício”, revelou ainda.
Marcador inovador
Noutra fase do estudo, em que foram acompanhados atletas da selecção nacional de remo e canoagem ao longo de trinta semanas, realizaram-se colheitas de sangue e foram verificados dois novos parâmetros que revelam a redução na capacidade imunitária dos atletas: as células natural killers e as dendríticas, estas útimas nunca utilizadas neste âmbito, tendo sido este o primeiro artigo mundial a constatar essa tendência.
Quando um vírus invade o organismo, as dendríticas “tendem a localizá-lo, agarrá-lo e apresentá-lo a outras células que o vão neutralizá-lo”. Luís Rama contou que, no caso destes atletas, foi notado que, “ao longo de uma época desportiva, as diversas linhagens decrescem na possibilidade de produzir citocinas, sendo este um mecanismo que pode explicar a incapacidade imunitária dos praticantes”.
Já a redução das funcionalidades das células natural killers, “muito importantes para a defesa rápida do organismo, pois atacam corpos estranhos mal entram em contacto com a circulação sanguínea”, também foi verificada ao longo da época.
Soluções propostas pelo estudo
Para minimizar a propensão a estas infecções, os investigadores sugeriram alguns comportamentos que podem ser adoptados no quotidiano dos atletas e que podem fazer a diferença. “Um bom planeamento de treino, com algumas tardes livres ou semanas mais leves é exemplo disso”, disse o investigador da UC.
Além disso, de acordo com o especialista, “ninguém, depois do treino, deve partilhar espaços fechados onde exista muita gente, como centros comerciais ou cinemas, pois até duas horas depois desta actividade, o indivíduo está mais debilitado no campo da higiene salivar”. Actualmente, estão a iniciar estudos com triatletas, “que são dos que mais treinam”, para recolher mais dados sobre este tipo de intervenção no treino.
Uma dieta rica em hidratos de carbono também pode ser útil neste contexto, pois ajuda a manter os níveis de energia necessários para a melhor restauração do sistema imunitário. Neste sentido, a equipa de investigadores, pretende avançar com uma componente mais “interventiva” neste estudo, dando "um passo em frente ao introduzir componentes lícitos, obviamente, na dieta dos atletas, para verificar se há melhoramentos do mecanismo protector”, adiantou Luís Rama.
Em "Ciencia Hoje"(link)